Ser ou Parecer? A Dura Batalha entre a Essência e a Aparência
- Alessandra Aragão

- 4 de set.
- 4 min de leitura

“Descubra como a sociedade dos filtros influencia sua autoestima e como resgatar sua verdadeira identidade.”
Quando você se olha no espelho… você se enxerga ou apenas se vê?
Com essa pergunta iniciei, na semana passada, um encontro com mulheres para refletirmos sobre imagem pessoal, constelação e autoestima. A intenção era abrir espaço para algo além da estética: falar sobre como nos percebemos, como nos apresentamos ao mundo e, sobretudo, como nos reconhecemos diante de nós mesmas.
A sociedade da vitrine
Vivemos em uma sociedade que nos cobra sermos felizes o tempo todo, como se a vida fosse uma vitrine. Nas redes sociais, sorrimos, mostramos conquistas, exibimos filtros e escondemos imperfeições.
Mas afinal: quem somos além da imagem que projetamos?
O que existe por trás desse reflexo no espelho?
Ainda que alguns tentem se proteger dizendo: “não me importo com o que vão dizer, eu sou assim”, na prática sustentar essa postura é desafiador. Muitas vezes cedemos à pressão, porque ser quem se é, com a sua própria história e vulnerabilidades, exige esforço e coragem. Desagradar, perder a validação externa e quebrar expectativas não é nada fácil.
A construção da autoimagem
A psicanalista Vera Iaconelli lembra que o “eu” nasce cedo, por volta dos dois anos, quando criamos uma autoimagem que carregamos pela vida: “eu sou a filha querida, eu sou a boazinha, eu sou a bonita”. Mas essa imagem é apenas uma parte, frágil e ilusória, do que realmente somos.
A vida nos convida, constantemente, a revisitar e expandir essa construção.A menina que hoje se vê como senhora no espelho precisa abrir espaço interno para acolher novas fases, novos papéis e novas identidades.
A prisão dos filtros
O problema é que muitas vezes ficamos aprisionados a uma imagem única, superficial, que precisa estar sempre perfeita. As redes sociais reforçam esse aprisionamento: o filtro, mais aceito do que o rosto real, transforma-se na nova “verdade”.
Isso é insustentável. Alguém grava um vídeo e, ao se rever, pensa: “estou feia”. Mas está apenas se vendo como é. O problema é que, em algum ponto, ser quem se é deixou de ser suficiente. Então, repete-se a gravação, recorre-se a filtros, porque a imagem passou a valer mais do que a própria pessoa.
Não é mais apenas fake news, é o fake de si mesmo.
Esse processo é despersonalizante e desorganizador: passamos a acreditar que nosso valor está apenas no que mostramos.
Não surpreende que tantos adolescentes sofram ao sair de casa, como vão se expor “sem filtro”? A consequência é a corrida por padrões inalcançáveis, muitas vezes sustentados por procedimentos estéticos invasivos. Meninas pressionadas a serem magras, de pele impecável; meninos cobrados a exibirem força e músculos.
Mas afinal, quem somos além da imagem? Onde está o verdadeiro valor?
O poder e o risco da imagem
Pesquisas mostram que, ao conhecer alguém, o cérebro forma impressões em segundos, e 93% dessa impressão vem da comunicação não verbal. O olhar, a postura, o tom de voz falam antes das palavras.
Isso revela o poder da imagem, mas também o risco: se não houver consciência, a imagem vira prisão; se houver autoconhecimento, ela se torna recurso autêntico de expressão.
Amor-próprio e merecimento
E aqui entram dois pilares fundamentais: amor-próprio e merecimento.
Amar-se é reconhecer que você não é apenas um corpo ou reflexo, mas uma história viva, feita de qualidades e fragilidades.
Merecer é se permitir ocupar espaços sem sentir culpa, acreditar que o valor não está apenas no que você oferece ao outro, mas também no simples fato de existir.
Sem amor-próprio e merecimento, a imagem nunca será suficiente: sempre parecerá precisar de mais um filtro, mais um retoque, mais uma validação.
Como lembra a pesquisadora Brené Brown, “acreditar que somos dignos de amor, pertencimento e alegria é o poder que move nossas vidas.”
Diversos estudos em psicologia positiva também comprovam que autoestima e merecimento são pilares da saúde mental, dos relacionamentos e da realização pessoal.
Marca pessoal: essência ou aparência?
Construir sua marca pessoal não é vaidade, mas um processo de autoconhecimento profundo.
É se perguntar:
✨ Quem sou eu?
✨ Como quero ser percebido?
✨ Qual mensagem quero transmitir?
Quando alinhamos imagem, postura e comunicação ao que realmente faz sentido, deixamos de viver para agradar e passamos a viver para expressar a verdade de quem somos.
O amor incondicional que falta
Para refletir: pense em um ser pelo qual você sente amor incondicional. Se este ser estivesse triste ou em dificuldade, você provavelmente ofereceria colo, cuidado, escuta e carinho.
Mas e quando é com você mesma?Por que tantas vezes somos rigorosos demais conosco, negando o mesmo amor e compaixão que oferecemos aos outros?
Talvez esteja aqui a chave: recuperar o amor incondicional por nós mesmos.
Amar-se não significa egoísmo, mas reconhecer o próprio valor e cuidar das próprias necessidades. Priorizar o seu bem-estar não é negligenciar o outro, mas condição para relações verdadeiramente saudáveis.
O amor-próprio é exercício constante, feito de autocompaixão, gentileza e compreensão.
Reinventar-se de dentro para fora
Reinventar-se não é vestir uma nova máscara, mas acolher a si mesma em cada fase da vida. É um movimento de dentro para fora.
O mundo está pronto para receber sua melhor versão , mas, antes, ela precisa ser reconhecida por você.
“Você é a única pessoa que estará com você para o resto da sua vida. Portanto, trate-se bem.”
Não seja uma cópia.
Seja uma edição única, exclusiva, de si mesma.
E você? Já parou para refletir quem você é além da imagem?
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